“A paróquia de Santiago de Silvalde já existia antes do século XIII, e é registada como uma das do arcediago da “terra” de Santa Maria, pelo Censual do Cabido do Porto.
“A paróquia de Santiago de Silvalde já existia antes do século XIII, e é registada como uma das do arcediago da “terra” de Santa Maria, pelo Censual do Cabido do Porto.
Os direitos de padrado do mosteiro de Grijó, que aqui possuía haveres vários, deviam existir já na alta Idade-Média; posteriormente, porém, o padroado achava-se repartido entre os cónegos do dito mosteiro, o bispo da diocese e o papa, que representavam, alternadamente, o abade. Este, no séc. XVII, possuía ainda uns 350 mil réis de rendimento anual.
Igualmente importantes para a historia local, propriamente dita, e para a arqueologia local são dois documentos de 1284: um régio (de D. Dinis) e outro forense, ambos respeitantes à questão entre a coroa, o abade da freguesia e o povo, de um lado, e o abade e o convento de Pedroso, por outro, sobre os limites da parte foreira à coroa, de Silvalde. A descrição dos mesmos fornece elementos arqueológicos de vulto, pois fala do Castro de Ovil e de uma mamoa ou orca, pelo menos, dentro dos ditos limites. Alegava a parte real que o termo era pelo rio Maior incluindo em Silvalde (então já Silvadi) o lugar de Castro de Ovil – o próprio D. Dinis, tão certo do seu direito, chama lugar de Silvalde «minha vila foreira de Silvadi» – o que a parte monástica contestava, pretendendo entrar em Castro Ovil, «que é o termo de Silvadi» (diz a carta régia).
Venceu a demanda de D. Dinis, e de facto se lavrou documento tabeliónico, em que o mosteiro entrega ao rei o Castro de Ovil, segundo estes limites de Silvalde: «por miogo da fonte que chamam de Loureiro e como se vai à mamoa terrenha» vê-se que o momento pré-histórico ainda estava recoberto da sua camada de terra, ao contrário das já então ditas «mamoas pedrinhas», (a que aludem vários documentos da época). Fala-se, ainda, de uma «lagoa» existente no rio, à qual chegavam os referidos termos.
Esta freguesia foi anexada ao concelho de Espinho, por decreto de 11-10-1926. Antes pertencia ao concelho da Feira, de cujo foral dado a 10-11-1514, beneficiou.”
[Fonte: Reprodução “cidades e vilas de Portugal”, de Correia de Azevedo 1961]
Lenda da Bicha das Sete Cabeças
Como todas as lendas, esta é uma história que enriquece a cultura local e que surge do folclore popular. Como tal, não tem fontes fidedignas nem documentos que atestem a sua veracidade, pelo que se propaga de forma espontânea, tornando-se nisso mesmo: uma lenda.
Assim, conta-se que, “junto à ribeira de Silvalde, nas proximidades de uma ponte, existia um campo onde trabalhava uma mulher que, um dia, viu vir em sua direção «um bicho nunca visto, que só de cabeças tinha muitas» e de cujas intenções a mulher fez tal juízo que logo deitou a correr no meio de uma grande gritaria. E porque estas coisas do susto se pegam como peste e maleitas, com ela fugiram todos os que por ali mourejavam (…).
À noite, o povo acordou sobressaltado com o alvoroço dos animais e foi ver o que se passava: encontrou animais mortos e esquartejados. (…) Ficou um de vigia, na companhia de uma corneta para pedir socorro. E este foi pedido ao romper da aurora e o vigilante contou ter visto uma bicha “que só de cabeças tinha muitas” e que embora lhe tenha batido com o ancinho, tinha fugido.
Todos os habitantes resolveram, então sair à procura de tal bicho e, depois de muitos dias, encontraram-no. Na luta travada, um camponês pereceu e, morta a bicha «cortaram-lhes as cabeças e acharam o número sete» (…).
Enterraram-na junto a um pilar da velha ponte e ali construíram uma capela para celebrar tão estranho caso. Uma cheia do rio levou a capela, mas, hoje, ainda há uma pequena placa em azulejo a contar a lenda”.
Boletim Cultural da Câmara Municipal de Espinho. Vol. VI
A lenda da «Bicha de Sete Cabeças» aparece, de igual forma, mencionada na Monografia de Silvalde mas com outra versão.
Esta conta que, andando dois irmãos a ceifar trigo na cortinha do Carvalhal, na Casela, “lhes apareceu uma bicha”. “Logo a irmã aterrorizada pediu ao irmão que a matasse. «Deixa ir a bichinha», lhe respondeu este, enquanto o réptil se escondia no valo. Passaram-se anos, e o ceifeiro emigrou para o Brasil. Um dia, roído de saudades, resolveu regressar ao Continente, tendo o navio sido capturado pelos piratas mouros e aprisionado com os companheiros. Na sua vida de refém, algo de extraordinário agora ia notando: todos os dias encontrava a cama feita e a mesa posta, o que não acontecia com os companheiros. Certa ocasião, tendo encontrado uma mulher a fazer-lhe tais serviços, perguntou-lhe por quê tais deslevos. E logo ouviu: «mereces isto e muito mais, porque me poupaste a vida…Lembras-te daquele dia em que a tua irmã te chamou para me matares e disseste deixasse ir a bichinha para o valo? Pois era eu aquela bichinha…Descansa, breve ficarás em terra!» Deu-lhe, em seguida, um cinto, um micho (pão de trigo), com quatro perninhas e uma buzina, para tudo fazer entrega à Bicha das sete cabeças, em Silvalde.
Quando voltou a Portugal, a irmã, curiosa e cobiçosa, roeu um pouco do micho. A encomenda não demorou a ser entregue à Bicha, em Silvalde. Logo esta, que era uma mulher, tocou a buzina, o micho transformou-se num burro de três patas, que cavalgou, e o cinto mandou o desse à irmã. O emigrante, cheio de medo pelo que tinha presenciado, enleou-o num carvalho, que se desenraiou e desapareceu”.